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Dois temas em fim de Julho

 

1.- Em Julho, a ilha do Pico transforma-se numa grande praça de convívio. As suas portas abrem-se aos visitantes, sobretudo estrangeiros que passeiam a pé, por veredas arborizadas e rochas escarpadas, observando o mar e o céu que Deus nos deu. Muitos deleitam-se com golfinhos e baleias que abundam, em redor das ilhas. Outros, arrimados ao bordão, gozam a calma e os cheiros da floresta, sem receio da chuva e do vento que desenha espetaculares nuvens sobre a Montanha, sinalizando previsões meteorológicas rigorosas que só os picarotos mais antigos sabem descodificar. 

“A Ilha Maior no sonho e na desgraça” 1.), conhece nestes meses uma tranquilidade e uma alegria contagiantes.

Os mais novos, em tempo de férias, andam por aí, queimando tempo em praias e festivais, na “boa-vida”, consumindo as poupanças de pais e familiares e pensando num futuro sem perspetivas.

A programação das festividades, os artistas e concertos, são organizados a pensar, sobretudo, na malta jovem.

Os idosos satisfazem-se com uma “chamarrita bem bailada”, e estão pr'ali entretidos, horas a fio, apreciando concertos das filarmónicas, ou confraternizando, em volta de um bom petisco: um prato de lapas, de caranguejos, de torresmos ou linguiça com inhames...

Festa é o reencontro com amigos e conhecidos, são as novas amizades, é o prazer de ver e ouvir artistas e agrupamentos musicais, cujas melodias estão em voga.

A festa é uma catarse coletiva que sara as feridas do insulamento contraídas em tempos de invernia. É um remédio santo que ninguém dispensa, por isso o povo se envolve, genuinamente.

Este fim de semana, decorre a segunda grande festa de Verão da Ilha do Pico. Chamaram-lhe, com muita felicidade, CaisAgosto.

O festival é muito concorrido, não só por gentes da própria ilha, como também por jovens da Terceira, de São Jorge e do Faial, ilhas centralizadas, por uns dias, na “Ilha Maior”.

Findo o CaisAgosto, a rapaziada parte para a Semana do Mar, na Horta.

E assim se faz este verão de 2013.

Enquanto uvas, maçãs, peras, ameixas e outros frutos da terra vão crescendo e amadurecendo, os picoenses confraternizam, nas adegas, ao sabor de caldos de peixe temperados e regados com o saboroso néctar picoense.

2. Tinha prometido a mim mesmo não voltar ao comentário político que, por vezes, afeta o discernimento e dificulta a lucidez de análise.

A semana transata, porém, foi fértil nas posturas dos responsáveis políticos deste país, o que permitiu as mais desencontradas leituras.

Não me referirei a esses episódios.

Prefiro, antes, marcar posição sobre o anunciado aumento de impostos, no ano que vem, decorrente da alteração da Lei de Finanças das Regiões Autónomas.

Já não bastava vivermos, em ilhas, sujeitos aos constrangimentos da mobilidade e aos custos elevados dos transportes que oneram, e de que maneira!, o custo de vida e dos bens essenciais; já não basta sermos penalizados pela falta de população que impede ou dificulta a manutenção e criação de emprego, sobretudo dos mais jovens; já não bastava vivermos numa pequena região ultraperiférica da União Europeia, embora por Bruxelas reconhecidamente carenciada de ajudas financeiras à sua atividade económica; já não bastava vivermos aqui numa missão de soberania que a pátria nunca valorizou...e eis que Lisboa nos decreta novo garrote, revelador do desconhecimento, insensibilidade e desinteresse para com os residentes nestas Ilhas.

Perante esta investida, não podem os poderes políticos, sociais e económicos ficar-se apenas pela sua discordância verbal. Tem de haver consequências, sob pena de o desemprego se agravar, e estas ilhas, em última análise, se desertificarem e empobrecerem ainda mais.

O assunto é sério, sobretudo porque penaliza o simples cidadão, razão que obriga os poderes públicos a organizarem-se numa frente que conteste esta injustiça.

Se nada for feito, outras restrições mais gravosas nos imporão,  desacreditando as competências e eficácia dos órgãos de Governo próprio, criados na lógica da “livre administração dos Açores pelos açorianos”.

1.)   Almeida Firmino-poeta

 

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